ROI de investimento em proteção de dados no Brasil chega a 2,8x dos gastos

As empresas deverão investir US$ 2,7 milhões em proteção de dados em 2023, um aumento significativo se comparado ao US$ 1,2 milhões em 2020, de acordo com a sexta edição da pesquisa global Data Privacy Benchmark Study 2023, realizada pela Cisco. Mais de 70% das empresas entrevistadas indicaram que estavam obtendo ganhos “significativos” ou “muito significativos” nos investimentos em privacidade, como ganhar a confiança dos clientes, reduzir atrasos nas vendas ou mitigar perdas por violações de dados.

Em média, as organizações estão obtendo ganhos estimados de 1,8 vezes sobre os gastos, e 94% de todos os entrevistados acreditam que as vantagens do investimento em privacidade superam os custos gerais. No entanto, 92% dos entrevistados acham que sua empresa precisa fazer mais para tranquilizar os clientes sobre como seus dados são tratados.

“As empresas estão muito focadas em compliance, porque a legislação, em muitos países, é muito nova. Ainda é um processo de evolução, onde as empresas focam em cumprir os requisitos da lei. Os entrevistados (titulares de dados) querem ter certeza da ética no tratamento de dados. Como os dados estão sendo tratados? ‘Não me conte só que está cumprindo a lei, quero uma transparência em um nível que eu me sinta seguro para compartilhar meus dados’”, alerta Marcia Muniz, diretora jurídica da Cisco América Latina e Canadá e Data Protection Officer, em entrevista exclusiva ao IT Forum.

No Brasil, o movimento é bastante similar ao global, com 57% dos respondentes dizendo que estariam mais confiantes se tivessem mais explicações sobre como os dados são tratados. Apesar disso, os investimentos em proteção de dados também crescem nacionalmente e o retorno de investimento é ainda maior do que na média global: 2,8.

A LGPD trouxe novos áreas para nesse cenário. Marcia afirma ver mudanças no comportamento dos titulares, que percebe o valor de seus dados. Além disso, o vazamento de dados, hoje, traz um dano reputacional muito alto para as empresas, assim como as penalidades. Para se ter noção, enquanto 79% dos respondentes globalmente afirmam que legislações são bem-vindas, no Brasil o número é 81%. “Éramos um país que estava carente dessa legislação.”

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No Brasil, 97% dos respondentes disseram que a privacidade é um imperativo de negócio e 90% afirmaram que os consumidores não comprariam de uma empresa que não garante a privacidade dos dados.

Para ultrapassar esses desafios, a especialista diz ser importante reavaliar a necessidade do tratamento de dados para atender a determinação da legislação, tratando os dados que devem ser tratados, sem excesso. O titular do dado tem que ter o direito de ser informado –  essa transparência é algo que está na legislação e é uma obrigação do controlador dos dados. Também é essencial ter uma política de privacidade que todas as pessoas entendam, sem um alto nível de complexidade.

“95% das organizações reconhecem que a privacidade é um dever de todos os colaboradores e é muito mais do que um programa ou política de privacidade de dados, é uma cultura de privacidade de dados. Todos devem estar comprometidos e isso é um desafio porque é uma novidade para todos nós”, comenta Marcia.

Inteligência Artificial tem dificuldades

A Pesquisa de Privacidade do Consumidor de 2022 da Cisco, divulgada no ano passado, mostrou que 60% dos consumidores estão preocupados com a forma como as organizações aplicam e usam a Inteligência Artificial, e 65% já perderam a confiança nas organizações em relação às suas práticas de IA. Os consumidores também disseram que a principal abordagem para os deixar mais tranquilos seria oferecer oportunidades para que optassem por não usar soluções baseadas em IA. No entanto, o novo estudo Benchmark de Privacidade de Dados de 2023 mostra que não usar IA foi a opção menos selecionada (21%) entre as ações que as empresas implementariam para tranquilizar seus consumidores.

“Esse desconforto existe por não ter intervenção humana. Fica uma análise muito fria, que permite ter mais baias e uma conclusão não tão acertada em relação a esses dados e como eles são tratados. Os titulares precisam de mais transparência e essa transparência pode vir por meio de uma intervenção humana e por uma melhor explicação sobre como os dados são usados”, provoca Maria.

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Embora 96% das organizações, globalmente, acreditem ter processos para atender aos padrões éticos e responsáveis que os clientes esperam de soluções e serviços baseados em Inteligência Artificial, 92% dos entrevistados acreditam que sua organização precisa fazer mais para tranquilizar os clientes sobre seus dados. Entre as práticas para atingir essa maior confiança do cliente estão, por exemplo, garantir que um humano esteja envolvido no processo ou explicar com mais detalhes ao usuário como a aplicação de Inteligência Artificial funciona.

No Brasil, 57% dos respondentes dizem que os clientes ficariam mais confiantes tendo mais explicação de como seus dados são tratados e 51% acreditam que essa confiança se daria tendo um humano envolvido em todo o processo.

Além disso, 88% dos entrevistados acreditam que seus dados estariam mais seguros se fossem armazenados apenas em seu país ou região, a pesquisa indica que isso não se sustenta quando os custos, a segurança e outras contrapartidas são consideradas. Surpreendentemente, 90% também disseram que um provedor global, operando em escala, pode proteger melhor os dados em comparação com provedores locais.