Salário alto, rotatividade e pressão: profissionais contam como é trabalhar com segurança da informação


Trabalhadores de várias regiões do Brasil contam ao g1 as suas experiências, os desafios e as motivações para escolher cibersegurança, uma das áreas que mais pagam bem na tecnologia da informação. Divina Naiara Vitorino, profissional de segurança da informação.
Fábio Tito/g1
“Eu já tinha desistido. Antigamente, eram poucas as empresas com esse setor e recebi muitas negativas”, diz Divina Naiara Vitorino, de 34 anos, que retrata bem como a segurança da informação só passou a ser valorizada depois de muito tempo.
Mas apesar do auge atualmente, a quantidade de pessoas habilitadas para trabalhar nesse ramo não acompanhou a demanda.
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E, ao mesmo tempo, quem já está na área reforça a pressão existente. Afinal, a responsabilidade em garantir a empresa protegida de ataques cibernéticos e de vazamentos é grande, dizem os profissionais.
Nos últimos meses, o g1 conversou com profissionais de várias regiões do Brasil que compartilham suas experiências no universo da segurança, além de seus desafios e dicas para quem está chegando agora (ou pensa em migrar).
Nesta reportagem, você vai conhecer 6 histórias:
Foi a área que me deu tudo o que eu tenho
‘Já levo a minha filha nos eventos de tecnologia’
Os desafios para quem é PCD
É apaixonante, mas é preciso impor limites
O olhar de um iniciante
‘Quem é estagiário de 40 anos?’
Foi a área que me deu tudo o que eu tenho
Divina Naiara
Fábio Tito/g1
Apesar de ter iniciado a carreira com suporte técnico e infraestrutura, lá em 2008, a paulistana Divina Naiara sempre demonstrou interesse por cibersegurança. Mesmo tendo a base, a sua primeira oportunidade com segurança só foi alcançada depois de 12 anos (entenda os motivos abaixo).
Graduada em rede de computadores em 2012, Divina resolveu fazer uma faculdade visando crescimento na TI, e foi na sala de aula que ela teve o primeiro contato com o mundo da segurança.
“Naquela época, era muito difícil conseguir trabalho com isso [segurança]. Eram poucas empresas com setor de proteção”, afirma. Até por isso, só em 2016 que ela conseguiu ter contato com as primeiras comunidades de cibersegurança.
Só que entrar nesse mercado era difícil. “Depois de ter certeza de que eu queria trabalhar com isso, tentei umas cinco vezes a minha primeira oportunidade e só recebi ‘não’. Os feedbacks não eram claros e só descobri as minhas lacunas por mim mesma”, diz.
Eu já tinha desistido de segurança da informação. Eu achei que não ia conseguir e que não era para mim.
Hoje, Divina Naiara Vitorino é coordenadora de infraestrutura e segurança em uma multinacional de seguros.
Fábio Tito/g1
O ano era 2020 e, sem perspectiva, Divina optou por participar de um processo seletivo para ser especialista em redes, sua formação inicial. Ao final da entrevista de emprego, o gestor da vaga perguntou se ela gostaria de acrescentar algo.
Divina, então, aproveitou para apresentar um projeto em segurança que tinha desenvolvido durante a pós-graduação em computação aplicada à educação. Para sua surpresa, o mesmo gestor da vaga de redes ligou dias depois convidando ela para trabalhar com cyber security.
Com frio na barriga, a profissional topou e foi responsável por criar a área de segurança da informação dessa empresa, onde ficou até o início deste ano.
Desde março de 2023, ela está na liderança de uma multinacional de seguros, como coordenadora de infraestrutura e segurança. “Eu não me arrependo de nada, porque foi a segurança que me deu tudo o que eu tenho. Meu nível de satisfação com tecnologia agora é altíssimo”, relata.
Divina conta ao g1 que migrou para o emprego atual porque só os benefícios já eram mais atrativos. “É um conjunto de salário e benefícios que me proporciona uma vida confortável”, diz. A profissional não quis revelar quando ganha mensalmente.
Além da dificuldade em encontrar emprego, Divina lembra que teve de encarar a pressão da cibersegurança. Mas como já havia lidado com situações parecidas no início da carreira em TI, ela conta que hoje administra melhor a tensão.
O que está acontecendo com segurança agora [auge e pressão] rolou comigo quando eu trabalhava com infraestrutura. De repente, a área teve um boom e todo mundo começou a olhar para ela, sobrecarregando o profissional.
‘Já levo a minha filha nos eventos de tecnologia’
Cleber Soares, profissional de segurança da informação
Arquivo pessoal
Cleber Soares, de 37 anos, tem uma missão de vida: promover a TI para quem está em Belém (PA). Ele já recebeu oportunidades para ganhar mais trabalhando fora do Brasil, mas diz que só quer largar o país quando o Norte tiver um papel de destaque na tecnologia.
Nós, negros, temos que ralar duas vezes mais para conseguir crescer. E ainda tem o preconceito com quem está fora dos grandes centros. ‘Ah, ele é do Norte. Quem é ele para falar alguma coisa?’. Por isso, eu não paro de estudar. Eu preciso mostrar quem é profissional Cleber Soares.
Sua trajetória começa em meados de 2001, quando ainda estava no ensino médio. No colégio, uma instituição externa ofereceu aos alunos um curso técnico de processamento de dados que, com o desconto, sairia por R$ 40.
“Naquela época, R$ 40 era muito dinheiro. Eu só tinha 12 anos e não conseguia bancar. Meus pais também negaram por falta de grana. Por sorte, a minha madrinha topou ajudar”. Sem computador em casa, o único momento em que tinha contato com o equipamento era em sala de aula.
Em um momento, Cleber viu uma pessoa que prestava suporte aos alunos do curso — era um estagiário. Soares, então, foi até o dono da instituição pedir uma oportunidade de estágio. “O dono disse que eles não davam dinheiro, mas topei para colocar a mão na massa. Trabalhei por 2 anos sem ganhar nada”.
Mais tarde, em 2008, entrou na faculdade para estudar rede de computadores, um dos cursos que dá base para segurança da informação. Nesse mesmo ano, conseguiu trabalho em uma empresa de tecnologia, mas veio a crise financeira de 2008 e, com ela, a sua demissão.
Depois de passar por outras profissões, em 2015 teve a virada de chave. O paraense começou a trabalhar em uma instituição de ensino, que, mais para frente, acabou sofrendo um ataque hacker. “Esse incidente me fez pensar: rapaz, quero estudar como isso é possível”.
Sua primeira oportunidade veio em 2016, quando foi chamado para trabalhar em uma instituição financeira, onde, hoje, é analista de segurança da informação pleno. Vale ressaltar que o setor financeiro é uma das áreas que mais emprega esse profissional, segundo a consultoria Robert Half.
Cleber só entrou na cibersegurança após frequentar um evento de TI, em que um amigo comentou que no banco onde ele trabalhava tinha uma vaga aberta.
Cleber Soares e a filha.
Arquivo pessoal
Agora, ele espera que a filha Julia, de apenas 4 anos, siga os seus passos, mas ressalta que isso deve ocorrer naturalmente. A pequena já acompanha o pai nos eventos de tecnologia e se mostra curiosa.
Quando digo que vou sair, ela pergunta se vou para algum evento de tecnologia e, quando estou em casa trabalhando, ela brinca de trabalhar com segurança da informação. É um barato.
Ele trabalha 100% home office e vê isso como um grande benefício. “Eu tenho muita flexibilidade que no presencial eu não teria. Eu posso levar e pegar a minha filha na escola todos os dias”.
Mas o trabalho remoto tem os seus desafios, diz ele. Após o expediente, o profissional busca sair um pouco de casa para ter contato com outras pessoas e descansar a mente.
Com relação ao salário, Cleber não é defensor da frase “paga bem”, pois existem muitas variáveis, como região onde se vive e trabalha, além do nível profissional. Questionado se estava satisfeito com o que ganha, Soares disse que a remuneração lhe atende, mas que pode ser melhor. O valor não foi revelado.
Profissionais contam como é trabalhar com programação
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Os desafios para quem é PCD
Salário alto, rotatividade e casos de burnout: talentos contam como é trabalhar com segurança da informação
Arquivo pessoal
A admiração da carioca Daniela Cristina Guidugli, de 37 anos, pela tecnologia vem desde a infância, observando seu pai consertar de tudo, de celular a televisor. Tanto que considerou ciência da computação como uma de suas opções de graduação. Mas decidiu por administração.
Daniela é deficiente auditiva e sentiu que administração seria mais fácil para estudar e se inserir no mercado de trabalho.
Guidugli nunca fez faculdade de TI e só agora começou a estudar rede de computadores. Ela migrou para a segurança em 2009. Antes disso, entre 2003 e 2008, trabalhou com administração no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em um hospital e, também, na Marinha do Brasil.
Ao final da faculdade de administração, ainda em 2008, Daniela fez um curso de tecnologia na ONG Universidade Livre para Eficiência Humana (Unilehu), focada em promover a inclusão de pessoas com deficiência no trabalho.
À época, graças à parceria da Unilehu com o banco HSBC, Guidugli teve a sua primeira oportunidade com segurança da informação, trabalhando na instituição financeira por quase 7 anos — até ser demitida por corte de custo.
“No banco, foi muito difícil porque não tinha nada de acessibilidade e todo mundo só falava por telefone. Às vezes, precisavam me ligar, mas eu não podia falar. Eu tinha que pedir para mandar e-mail ou tinham pessoas maravilhosas que me ajudavam”, relata.
Eu não conseguia acompanhar as reuniões. Todo mundo falava ao mesmo tempo, e depois as pessoas perceberam que eu também estava ali e passaram a me ajudar. Criaram uma dinâmica para me dar espaço.
Daniela Cristina Guidugli é deficiente auditiva e analista pleno de segurança da informação
Arquivo pessoal.
Com a demissão no banco, a partir de 2015, Daniela passou a se dedicar exclusivamente aos cuidados da filha, hoje com 11 anos, e que também é surda. Ela ficou sem trabalho por 5 anos, mas seguiu estudando sobre cibersegurança.
“Lá em 2008, as capacitações não eram acessíveis. Meus colegas evoluíram e eu me sentia estagnada por falta de estudo e atualizações do mercado. De 2020 para cá, evoluí bastante como profissional”, afirma.
Ainda em 2020, um mês antes da pandemia de Covid-19 começar, ela voltou a trabalhar em uma fintech brasileira de soluções de pagamento, como analista de segurança da informação júnior. Lá, ficou quase um ano, até ser chamada para trabalhar na prefeitura de Curitiba (PR).
Hoje, morando na capital paranaense, onde conheceu o seu marido, que é surdo, Guidugli chegou a se preparar para concursos públicos, isso durante o período em que esteve fora do mercado.
“Eu fui ser servidora pública para trabalhar com melhorias de políticas públicas e acessibilidade para surdos. Só que não tinha nada de tecnologia, então saí depois de 1 ano”, conta.
Após pedir demissão, a profissional voltou a ser analista de segurança da informação júnior na mesma fintech de pagamento, onde ficou por seis meses. Desde setembro de 2022, vem trabalhando em outra instituição financeira, mas, desta vez, como analista pleno, ganhando mais. O valor não foi divulgado.
Seu objetivo no momento é seguir estudando para alcançar novos horizontes nesse mercado.
Como é uma área que eu me identifiquei muito, nunca cogitei desistir dela por causa da minha deficiência. Agora eu penso em me preparar para alcançar uma liderança significativa. Mas a realidade ainda não é perfeita. Temos barreiras de comunicação e de informação, e há muito o que conscientizar.
É apaixonante, mas é preciso impor limites
Na profissão há 13 anos, a gaúcha Roberta Robert, de 31 anos, já viveu muita coisa. Teve algumas recaídas e só depois de muito tempo aprendeu a colocar limites no trabalho para não prejudicar a sua saúde mental.
Roberta foi atraída pela segurança aos 9 anos de idade. Tudo começou lá em 1999, quando assistiu ao filme “Matrix”. A hacker Trinity, interpretada pela atriz Carrie-Anne Moss, foi a sua inspiração.
Roberta Robert está mergulhada no universo da segurança da informação desde a infância
Arquivo pessoal
Eu vi a Carrie-Anne Moss no filme e disse ‘bah, eu quero ser a Trinity’. Eu não sei o que é isso [ser hacker], mas eu quero fazer igual.
Na mesma época, o seu irmão já estudava ciência da computação, mas computador era um troço muito caro. Ela lembra que a família se reuniu em oito pessoas para conseguir comprar a máquina, que foi paga em carnê de 18 prestações.
“Eu tinha esse privilégio desde nova e usava o computador, também. Tanto que consegui ferrar ele várias vezes, tentando bloquear meu irmão de entrar. Eu fiz muita besteira”, diz, aos risos.
Roberta trabalha com tecnologia desde 2010 e lembra das dificuldades para encontrar informações acessíveis sobre segurança da informação naquele ano. Segundo ela, era muito difícil chegar nos materiais de estudo e muitos dos conteúdos estavam disponíveis apenas em livros de universidades.
Ela começou a estudar ciência da computação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ainda em 2010. No mesmo ano, conseguiu um estágio em administração de redes, mas o sonho era fazer estágio de segurança.
“Só que tinha um problema: não existia oportunidade em cibersegurança naquela época. Por sorte, como eu participava de um grupo da área com vários profissionais, fui na cara de pau pedir uma oportunidade e rolou”. Em meados de 2013, ela entrou em um estágio em segurança ofensiva (Pentest) numa empresa do setor.
No ano seguinte, Roberta foi para Nice (França), para fazer um mestrado em criptografia graças a uma bolsa do programa Brafitec, do governo federal. “Só que, em Nice, eu tive muita pressão. Era uma oportunidade única e não podia errar. Para a minha sorte, tinha um professor horrendo, daqueles que falava que ‘dormir era para os fracos’. Acabei entrando na dele e voltei para o Brasil com mais uma bagagem: uma depressão”.
Por volta de 2016, com a saúde afetada após a viagem para a França, Robert trancou a faculdade, já que começou a ir mal nas matérias. No ano seguinte, retornou ao mercado, mas para trabalhar com programação. Após essa fase, conseguiu passar por várias empresas de segurança.
Roberta também voltou para a faculdade de ciência da computação e se forma ainda este ano. No momento, é líder em engenharia de segurança em uma multinacional de consultoria em RH.
Ela tem um salário alto, mas acredita que poderia ganhar mais se estivesse trabalhando em São Paulo. A profissional preferiu não divulgar o valor nesta reportagem.
Ainda este ano, ela já pensou em desistir de cibersegurança. “Teve um momento em que pensei: ‘se pá é muito estresse’. É apaixonante, mas a pressão, principalmente pela responsabilidade que tem junto, cansa, às vezes”.
O olhar de um iniciante
Vagner Gonçalves Martins é analisa de segurança da informaçao júnior
Arquivo pessoal
O baiano Vagner Gonçalves Martins, de 21 anos, largou a pequena cidade de Santo Estêvão (BA) para se aventurar por um bairro que é centro financeiro da capital paulista. Martins diz ser “completamente apaixonado pela Vila Olimpia”.
A admiração pelo bairro veio após a sua primeira oportunidade em uma startup de segurança que está na região. Foi na Vila Olimpia, um dos polos de empresas de tecnologia, que ele viu, na prática, como é o mercado de trabalho. “Até então, a minha única referência sobre startups, era assistindo ao programa Pequenas Empresas e Grandes Negócios”, conta.
Vagner nunca foi amante da tecnologia e só aos 14 anos que teve o primeiro computador. Questionado sobre o porquê de ter escolhido TI, Martins diz que ele e o irmão gêmeo, que hoje é programador, eram os primeiros integrantes da família a entrar em uma universidade — os dois buscavam por uma área promissora.
“Eu tinha outras [opções] em mente, como psicologia ou ir para algo mais artística, que eu gosto também. Mas optei por tecnologia. Foi meio que no escuro, mesmo”, diz ao g1.
Em 2019, assim que terminou o ensino médio na Bahia, ele iniciou a graduação em rede de computadores. As aulas eram no modelo EAD (à distância) e o jovem tinha muita dificuldade em se adaptar.
Com o apoio do pai, eles acharam melhor trancar o curso, já que o rendimento no primeiro semestre não foi positivo. “Hoje, eu vejo que não foi a melhor decisão [ter abandonado], mas acabo relevando”, diz, em tom de arrependimento.
Já em 2020, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Vagner conseguiu uma “nota competitiva” e aproveitou o bom resultado para voltar à sala de aula, agora presencialmente, e dar sequência ao curso de rede.
Filho de pais separados, até então, ele morava com a avó materna, na Bahia. E a sua mãe, que já estava na capital paulista, orientou o filho a se mudar para São Paulo. Isso porque a cidade tem mais opções de estudo, segundo eles.
A mudança foi positiva: primeiro, porque, graças ao Programa Universidade Para Todos (Prouni), ele conseguiu uma bolsa de 70% para estudar rede de computadores e passou uma temporada no telecentro, uma incitativa da prefeitura de São Paulo.
Após três meses no telecentro, conseguiu um estágio em cibersegurança na Vila Olimpia, onde hoje é analista de segurança júnior.
Questionado sobre os desafios da segurança, Martins afirma que o início é difícil para quem está chegando. São muitas informações, caminhos possíveis e uma tecnologia que muda o tempo todo. Para ele, o estudo constante continua sendo a melhor saída.
A faculdade de rede deu uma boa base, mas no fim das contas, não era um curso de segurança. Então, eu tive que estudar mais sobre essa área em específico e continuo pesquisando.
Perguntado se pensa em migrar para programação como o irmão, o jovem descarta essa possibilidade. Em tom de brincadeira, Martins diz não ter “rixa” entre eles por conta da escolha e que ambos se ajudam no dia a dia com dúvidas relacionadas ao mundo da tecnologia.
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‘Quem é estagiário de 40 anos?’
Matheus Cardoso se prepara para abrir a própria empresa de segurança da informação
Arquivo pessoal
Com uma carreira sólida de 8 anos no direito, o baiano Matheus Cardoso teve uma ideia ousada: largar a advocacia para trabalhar com segurança da informação. Ele conta que essa motivação surgiu depois de lidar com alguns casos de clientes que foram vítimas de golpes on-line.
“Eu sou apaixonado pelo direito, fiz até mestrado, mas queria entender como um hacker consegue invadir uma conta bancária, por exemplo. Eu comecei a estudar sobre o assunto e me apaixonei de novo”, diz Cardoso.
Ele diz que, desde pequeno, sempre teve um certo interesse pela tecnologia, mais precisamente a partir dos 10 anos de idade, quando sua mãe o matriculou em um curso de informática. Ainda assim, acabou indo para o direito.
Só que hoje, com 38 anos, e migrando para TI, Matheus sente na pele a discriminação pela idade no mercado de trabalho, também conhecida como etarismo. Ele desistiu de procurar emprego e, agora, quer empreender — está montando a própria empresa de segurança da informação.
Em conversa com o g1, Matheus afirma já ter um bom currículo em tecnologia da informação, mas que, ainda assim, não é chamado para as entrevistas de emprego.
“Tem processo seletivo que participei há três meses, a vaga segue aberta e não tenho nenhum retorno. As empresas precisam ser justas e transparentes”, afirma. “Eu me questiono: será que é pela idade?”, completa.
Eu tive medo e me questionei bastante. Como eu ainda sou estudante, agora, eu seria o estagiário, mas quem é estagiário com 40 anos? Tem moleque de 20 anos saindo agora da faculdade. Será que eu consigo competir com ele?
O profissional ainda não está atuando ativamente com cibersegurança, mas tem feito alguns bicos na área, enquanto a principal renda vem do direito.
Em 2020, começou a ir atrás de certificações em segurança. E, desde 2022, ele tem estudado análise e desenvolvimento de sistemas em uma faculdade na Bahia. Também tem feito uma pós-graduação em defesa cibernética.
Ainda na infância, Matheus era um curioso pela tecnologia. Mas, quando jovem, preferiu não trabalhar com isso. “Antigamente, era muito difícil arrumar trabalho, eram poucas vagas de TI. Aí eu falei: ‘vou para o direito porque dá para ter uma carreira melhor'”.
Só que o jogo virou, afirma ele. A tecnologia se transformou em uma área extremamente aquecida e cibersegurança tem, hoje, um dos maiores salários, podendo chegar a R$ 38 mil, dependendo do cargo.
Cardoso espera abrir a sua empresa de segurança da informação ainda este ano, prestando serviço a outras companhias. O profissional também espera “fazer a diferença”, dando oportunidade a pessoas mais velhas e diz que fará processo seletivo justo e inclusivo.
“Eu não me arrependo de ter iniciado a migração do direito para a tecnologia. Eu me arrependo de não ter começado a estudar muito antes”, diz.
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