Vinho branco envelhece, é longevo e merece aeração; conheça rótulos que merecem destaque

O consumidor de vinhos sofre com uma mistificação que está na hora de ser afastada: só os vinhos tintos são longevos ou de guarda. Na esteira: os vinhos brancos são feitos para serem bebidos jovens e logo que abertos. Pois discordo! Vinho branco envelhece, é longevo e merece aeração. Claro que não estou falando dos péssimos vinhos chilenos brancos, com sua irritante calda de abacaxi e maracujá no olfato e palato; muito menos me refiro aos vinhos “de entrada” italianos, que, ainda que muito bem vinificados (ao contrário dos chilenos), são postos em mercado para rápido consumo, refrescados, por serem refrescantes e ponto. Meu foco são os vinhos que, madeirados ou não, guardam clara tipicidade e características positivas que só se acentuam com o tempo.

Há alguns anos, foi noticiado que uma garrafa de vinho branco ficou aberta por semanas e manteve suas características de modo a estar, absolutamente, palatável. Tratava-se de um vinho produzido pelo Nicolas Joly, no Loire, França, um viticultor e enólogo precursor dos vinhos biodinâmicos na França. Os brancos da Alsácia, especialmente da casta Riesling, têm forte potencial para a guarda, sendo que sua aeração, antes de consumo, é recomendável, até para que muitos aromas se apresente. Dos vinhos do Nicolas Joly o Clos de La Bergerie e o Clos de La Coulée De Serrant, a meu ver, são os que têm o maior potencial de guarda e longevidade; ouso afirmar que são brancos para serem abertos com mais de quinze anos de guarda. Um Riesling alsaciano que parece ser “eterno” é o Trimbach Riesling Frédéric Emile. Por seu turno, Riesling germânico de vida longa é o Peter Lauer, Riesling Spatlese Fass 23, ao meu ver o que há de melhor do Mosel (Alemanha).

Entretanto há outros tantos vinhos brancos que são longevos, de guarda e evolução. Alguns, inclusive, após mais de dez anos, começam a apontar para certas notas oxidativas que estão longe de serem defeitos (em futuro artigo tratarei deste tema, especificamente). Me permito citar três que, com tais características, são o resumo do que há de melhor em se tratando de vinhos brancos com toques oxidativos: Palácio de Buçaco, da Bairrada, Portugal; Viña Tondônia, da Rioja, Espanha e o icônico  Château Musar, de Bekká, no Líbano. Para finalizar, lembro que vinhos brancos devem ser servidos refrescados e não gelados, especialmente os brancos mais complexos. Alguns grandes brancos da Bourgogne são servidos quase que na temperatura ambiente. Por exemplo, um  Domaine Ramonet Montrachet Grand Cru, ao contrário da recomendação de temperatura de serviço que a importadora, erroneamente, indica, não deve ser bebido a  inferiores 14ºC. Já um  Louis Jadot Meursault, pode ser refrescado a 12ºC. Um bom Chardonnay nacional, que tem apresentado grande potencial de guarda, como o Salton Virtude Chardonnay, comporta temperaturas abaixo de 12ºC. Porém vinhos ordinários, sem nenhuma tipicidade, como os de entrada chilenos, sequer na temperatura das “raspadinhas” são recomendáveis, para quem procura um mínimo de tipicidade, evolução e guarda em um branco. Salut!