Mesmo com ‘ajustes’, VTEX quer manter ritmo de investimentos

Pega pela crise global que afetou sobremaneira o custo do dinheiro, a VTEX não cresceu em receita os 30% esperados para 2022, embora tenha chegado a US$ 157,6 milhões, um número 25,3% maior que o de 2021, com volume de mercadorias transacionado (GMV) de US$ 12,7 bilhões (ou 31,3% de crescimento) em sua plataforma de e-commerce. A expectativa é crescer menos em 2023, em meio a um ajuste operacional que vem desde 2022 e que incluiu demissões.

“A crise pegou a gente no meio do ano. A gente cresceu 20 e alguma coisa [porcento]”, disse Geraldo Thomaz, fundador e co-CEO da VTEX, durante coletiva de imprensa do VTEX Day, evento da companhia que acontece entre segunda (5) e terça-feira (6), em São Paulo. “Esse ano nosso guidance [direção] está entre 15 e 19%.”

Perguntado pelo IT Forum sobre até quando a VTEX deve continuar no movimento de ajuste, o executivo não respondeu diretamente. Mas disse que mesmo demissões mais recentes (que ele não quis chamar de lay-off), como as dos 32 funcionários dispensados na semana passada, principalmente da área de tecnologia, são parte de um ajuste de produtividade, e não visam especificamente uma redução de quadros.

“Na nossa perspectiva foi uma reestruturação de tecnologia para sermos mais produtivos. Não tem a ver com adequar a equipe. Não como a gente fez ano passado, que foi top down para diminuir custos e atingiu 10% [do quadro de funcionários da época]”, ponderou Thomaz. “Não estamos na ilha de fantasia. O custo de dinheiro no mundo é 20 vezes maior que um ano e meio atrás.”

Segundo o executivo, a VTEX ainda opera com prejuízo quase 30% maior do que o faturamento, o que exige uma adequação natural após um período de expansão intenso. No entanto, a empresa não quer perder “o ritmo de investimento”. Segundo ele “a receita está crescendo mais que o investimento”.

Thomaz diz que, atualmente, pouco mais de 50% do faturamento da VTEX é obtido no Brasil, e por isso o País concentra boa parte do investimento feito em inovação – em 2022 foram quase R$ 300 milhões aplicados. “A gente continua nesse ritmo”, ponderou.

Atualmente a companhia tem cerca de 1.300 funcionários e 2.600 clientes em 38 países – com escritórios em 17 deles, incluindo nos EUA e na Europa.

VTEX Day

Esse ano o VTEX Day ocorre sem nenhuma restrição de público por conta da pandemia, o que anima os organizadores. Segundo Mariano Gomide de Faria, também cofundador e co-CEO da empresa, o número de entradas emitida passou de 20 mil, com expectativa de “um número bem grande de pessoas”.

“Talvez seja o maior evento de digital commerce do mundo, mostrando a força do ecossistema brasileiro e da América Latina. A gente escuta aqui nos corredores que o VTEX Day não deixa nada a desejar para a NRF”, disse o executivo, citando a tradicional feira de tecnologia para o varejo realizada anualmente em Nova Iorque. “É uma indústria pujante, que continua crescendo acima do mercado.”

A edição conta com o apoio de 196 patrocinadores, número 21% acima do ano passado. A extensa programação de conteúdo voltado aos varejistas terá palestras da supermodelo e empresária Gisele Bündchen. São oito palcos com mais de 200 palestrantes para discutir tendências de tecnologia e desafios para o desenvolvimento do comércio eletrônico nacional e global.

A empresa também vai aproveitar o evento para anunciar novos produtos. Entre eles o Personal Shopping, um aplicativo móvel para vendedores, tanto os que atuam no B2B como no B2C, que aposta no “live shopping”, ou seja, incorpora recursos de venda consultiva e presencial no comércio eletrônico.

Outro produto anunciado, o Pick and Pack, promete automatiza os processos das lojas físicas e promete transformá-las em centros de distribuição pulverizados. “Quando colocamos lojas físicas para entregar no Brasil inteiro ficamos com uma cobertura de estoque de praticamente 100% [do território]”, explica Thomaz.

Por último, o VTEX Shipping Network promete ser uma ferramenta de integração com sistemas de transportadoras logísticas mais eficiente.

“Queremos abrir o tentáculo para ter ramificações e ter todos os atores da indústria em torno de uma mesma espinha dorsal”, explica o co-CEO. “Daqui a pouco o varejo inteiro está digitalizado em cima da espinha dorsal que é a VTEX.”

Tendências tecnológicas

Segundo Mariano Faria, há uma série de tendências tecnológicas identificáveis no VTEX Day e que demonstram o caminho evolutivo escolhido pela companhia. Parte delas tem como objetivo atender o mercado B2B, conforme as plataformas de e-commerce começam a ganhar integrações relevantes com grandes sistemas como SAP e Salesforce, por exemplo.

“Isso é uma tendência de unificar plataformas de customer facing. O que entra como grande novidade, não só nossos, mas do pavilhão [com os parceiros], é a entrada da força de venda na jornada digital”, pondera o executivo. “O vendedor de loja física como missing link entre o B2B e o B2C.”

Thomaz explica que muitos dos parceiros expondo soluções no VTEX Day estão usando inteligência artificial para automatizar processos no varejo. Parte deles segue uma tendência histórica de incluir a tecnologia em soluções de conversação e mensageria, mas que a grande novidade é a automação, de modo a ganhar eficiência, reduzir custos e preservar as já estreitas margens obtidas pelo varejo brasileiro.

“Tudo isso que você vai ver aqui, empresas de chatbot, atendimento automático. Isso tudo está sendo viabilizado pelo advento da IA”, diz Thomaz. “Antes era só para antifraude, e agora não, tem um monte de casos de uso.”