Brasil precisa de ‘mais Olavo e menos Oliva’ na Era Lula

Raramente a História reconhece a qualidade e o legado real de alguém imediatamente ou no curto prazo. O processo de leitura e reconhecimento histórico é lento, nunca urgente e sempre posterior ao fato. A mesma regra vale para erros. Por isso, o tempo é o senhor da razão histórica. Certeza do 1° de janeiro com cara de 1° de abril de 2023: a Carreta Furacão estacionou de marcha à ré no Palácio do Planalto, e Luiz Inácio Lula da Silva subiu a rampa com Geraldo Alckmin & Cia. Comprovou, mais uma vez, que sabe usar e abusar da comunicação: escalou gente do povo para lhe passar a faixa presidencial. Chorou, segurou menino negro ao cantar o Hino Nacional, sempre explorou bem a força do simbólico. O protagonismo da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, deixa a certeza de que Lula jogará pesado em propaganda.

Incerteza básica: “O amor venceu o ódio”? – como eternamente Lula repete. Pela manifestação dos vermelhinhos da petelândia, lotando a Praça dos Três Poderes, o revanchismo vem com toda força e vigor. E “sem anistia”, principalmente para o ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, que preferiu terminar o governo viajando para um descanso em Miami, nos EUA, sem transmitir o cargo para Lula. Clima para isso não havia. Da mesma forma como o clima será pesado e desafiador para fazer oposição ao regime petista. Tudo dependerá da postura sábia e da qualidade da oposição. A prioridade já se sabe qual é: a Direita conservadora tem de se organizar para combater a esquerda revolucionária. Necessário é reagir com firmeza, cautela, conhecimento e estratégia, dentro dos ditames da Legalidade com Legitimidade, para restabelecer a Liberdade e o Estado de Direito no Brasil.

Em 2019, Bolsonaro advertiu, em um discurso: “Se eu errar, o PT volta”. O PT voltou. Será que adianta culpar Bolsonaro, Mourão ou os militares? Os políticos, a base aliada de Bolsonaro, também não têm culpa? A falha na estratégia de comunicação merece perdão? No Congresso Nacional, na cerimônia de posse, Lula ironizou (ou desabafou?) com o presidente da Câmara, Arthur Lira, enquanto assinava seus termos de posse: “É rapaz, nunca que eu ia ganhar”. Depois do recado calculadamente dado, até afastou o microfone que flagrou a indiscreta narrativa. No discurso, Lula jogou duro com o passado recente: “Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a Nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei. Quem errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido processo legal. O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia. Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com a verdade. Ao terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras consequências”.

Lula falou em fazer “gesto pela união”, para “governar para todos e todas”, mas o discurso foi uma ida e vinda: “Reafirmo, para o Brasil e para o mundo, a convicção de que a Política, em seu mais elevado sentido – e apesar de todas as suas limitações – é o melhor caminho para o diálogo entre interesses divergentes, para a construção pacífica de consensos. Negar a política, desvalorizá-la e criminalizá-la é o caminho das tiranias. E acrescentou: “Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre! Para confirmar estas palavras, teremos de reconstruir em bases sólidas a democracia em nosso país. A democracia será defendida pelo povo na medida em que garantir a todos e a todas os direitos inscritos na Constituição”.

Lula cumpriu a promessa de campanha de mexer em um ponto crucial para o bolsonarismo: o direito de possuir armas. O novo Presidente comemorou: “Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação do acesso a armas e munições, que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. O Brasil não quer mais armas; quer paz e segurança para seu povo”. Lula também deixou no ar uma ameaça velada sobre a Regulação da Mídia – termo não explicitado no discurso: “Defendemos a plena liberdade de expressão, cientes de que é urgente criarmos instâncias democráticas de acesso à informação confiável e de responsabilização dos meios pelos quais o veneno do ódio e da mentira são inoculados. Este é um desafio civilizatório, da mesma forma que a superação das guerras, da crise climática, da fome e da desigualdade no planeta”.

Resumindo: O sistema não venceu totalmente. Seu Mecanismo só tomou o poder, em consórcio com a Cleptocracia, a Juristocracia e a Esquerda Revolucionária. É alto o risco de que muitos corruptos voltam à cena do crime. Cabe ao Povo Honesto pressionar mais do que nunca o Parlamento. Esse é o jeito pacífico. A Política é a única saída civilizada para solucionar a mais grave crise institucional no Brasil em que a Democracia só existe na narrativa da oligarquia ou dos incautos. Haverá oposição política eficaz, efetiva e eficiente? Só não existe solução para a morte. Depois dela, realmente, já era, em termos materiais. Na Política, tudo tem jeito. Tem períodos de avanço e recuo, abertura e fechamento. Tudo é possível. Nem golpe militar acontece sem apoio político. A força não toma o poder sozinha. Portanto, sempre a saída é Política e sem golpismo.

Dúvidas que ficam I: Devemos acreditar na lei da gravidade: tudo que sobe desce? Dúvida II: O poderoso Alexandre de Moraes deixará Lula governar? Ou o PT acabará conspirando contra ele, para substituir o amigo de Alckmin por alguém que o partido julgue “mais confiável”? Dúvida III: Haverá oposição estratégica, corajosa e resiliente a Lula? Resistirá? Será esmagada? Cooptada ou corrompida? Parece mais inteligente focar na organização e consolidação de um Projeto Estratégico Conservador para o Brasil – baseado nos conceitos de Olavo de Carvalho e de outros livre-pensadores – do que ficar esperando ou pedindo por uma salvação (que dificilmente virá) por iniciativa das Forças Armadas. Não é à toa que os militares estão apanhando (mais que Lula) dos bolsonaristas. Assim, o lema correto, justo e perfeito: “Mais Olavo, menos Oliva”.