Saiba como as redes sociais e a ‘privacidade’ sem controle deixam as pessoas mais briguentas

Diversos países têm presenciado as redes sociais como um ambiente propício para conflitos e brigas motivados por discurso de ódio, cyberbullying, discussões políticas, diferenças culturais e religiosas e disseminação de notícias falsas. Diferente do mundo real, no digital, fatores colaboram para que as pessoal mostrem mais quem são. Desse modo, confira os seis motivos que colaboram para que as pessoas sejam mais briguentas nas redes sociais:

1) Anonimato e a privacidade “sem controle”

As redes sociais permitem que as pessoas se escondam atrás de perfis falsos ou pseudônimos, o que pode encorajar comportamentos agressivos e prejudicar a comunicação saudável. Muita privacidade sem controle pode trazer falta de segurança. Embora a privacidade seja importante para proteger os dados pessoais e garantir a liberdade individual, o excesso de privacidade sem nenhum controle pode levar a problemas de segurança. Por exemplo, se uma empresa de tecnologia coleta muitos dados pessoais sem o consentimento do usuário e sem proteger adequadamente esses dados, isso pode levar a violações de privacidade e exposição de informações pessoais sensíveis. Da mesma forma, se uma pessoa se recusa a compartilhar qualquer informação pessoal com outras pessoas ou empresas, pode ser mais difícil para elas receberem ajuda ou suporte em emergências ou de segurança. O importante é saber que deve haver um balanceamento entre preservar a privacidade do indivíduo – atualmente obrigatória pelas empresas por meio da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), e permitir uma identificação que garanta a segurança do coletivo, sem ser tão invasiva.

2) Diferenças culturais e de opinião

Com o acesso global à internet, as pessoas estão expostas a diferentes pontos de vista e culturas, o que pode levar a desentendimentos e conflitos. Quanto mais pessoas diferentes se juntam em um mesmo ambiente, maior é a probabilidade de haver conflitos. Isso ocorre porque as diferenças entre as pessoas, como crenças, valores, culturas e opiniões, podem levar a desentendimentos e tensões. Existem vários exemplos na história em que a mescla de culturas provocou conflitos. Por exemplo, tem-se: A Conquista das Américas, que, com a chegada dos europeus ao continente americano no século XV, provocou conflitos entre as culturas indígenas e europeias, levando a guerras e exploração. Outro exemplo foi o Imperialismo na África. Durante o século XIX, as potências europeias colonizaram grande parte do continente africano, o que levou a conflitos entre os colonizadores e as culturas nativas. No entanto, é importante lembrar que a diversidade também pode ser uma força positiva, trazendo novas perspectivas e ideias para um grupo. O importante é encontrar maneiras de lidar com as diferenças de forma respeitosa e colaborativa, identificando os indivíduos que não respeitam o limite do próximo para o bom convício social.

3) Falta de comunicação não verbal

A comunicação online é frequentemente limitada a palavras escritas, o que pode levar a mal-entendidos e interpretações equivocadas. Seja em redes sociais, e-mails ou mensagens instantâneas, a interação entre pessoas é frequentemente limitada a palavras escritas, sem a presença de comunicação não verbal, como gestos, expressões faciais e tom de voz. Além disso, a comunicação online pode permitir que as pessoas sejam mais impulsivas e agressivas em suas mensagens, já que estão menos sujeitas a censura social e a monitoramento de autoridades. Isso pode levar a conflitos e brigas desnecessárias. Por exemplo, uma mensagem de texto escrita em um tom irônico pode ser interpretada como séria por alguém que não está familiarizado com a forma de comunicação da outra pessoa. Da mesma forma, a falta de entonação e outras pistas não verbais podem levar a uma leitura errada de uma mensagem ou e-mail. Para minimizar os mal-entendidos na comunicação online, é importante que as pessoas sejam claras e diretas em suas mensagens, evitem sarcasmo e ironia, e usem emojis ou outras formas de comunicação não verbal para transmitir sua intenção

4) Bolhas de opinião

As redes sociais permitem que as pessoas se conectem com outras com opiniões semelhantes, o que pode aumentar a polarização e os conflitos entre grupos com pontos de vista diferentes. Quando as pessoas são expostas apenas a informações e opiniões que confirmam suas crenças existentes, elas podem se tornar cada vez mais convictas de suas próprias opiniões e menos dispostas a considerar pontos de vista diferentes. Isso pode levar a uma polarização entre grupos com pontos de vista diferentes, o que pode levar a conflitos e tensões. Um exemplo de “bolhas nas redes sociais” que foram prejudiciais foi o caso da eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016. Durante a campanha eleitoral, muitos americanos foram expostos principalmente a informações que confirmavam suas crenças e opiniões políticas existentes, em vez de informações que apresentavam uma visão mais ampla e equilibrada dos problemas políticos. Isso levou à polarização e ao extremismo político em ambos os lados, e muitas pessoas se tornaram cada vez mais convencidas de que suas próprias opiniões eram as únicas corretas.

5) Propagação de desinformação

As redes sociais também permitem que informações falsas e teorias da conspiração se espalhem rapidamente, o que pode levar a conflitos e divisões. Quando as pessoas compartilham informações falsas ou teorias da conspiração nas redes sociais, isso pode levar a uma polarização de opiniões e a um aumento do extremismo, já que as pessoas tendem a se agrupar em torno de crenças compartilhadas. Isso pode levar a conflitos e divisões entre grupos que possuem diferentes perspectivas e visões de mundo. Além disso, quando as pessoas acreditam em informações falsas ou teorias da conspiração, isso pode levar a uma erosão da confiança na mídia e nas instituições, o que pode levar a uma maior polarização e divisão da sociedade. Para minimizar o impacto das informações falsas e teorias da conspiração nas redes sociais, é importante que as pessoas verifiquem a fonte das informações antes de compartilhá-las e sejam críticas em relação às informações que recebem nas redes sociais. As plataformas também têm a responsabilidade de monitorar e remover conteúdo falso ou enganoso e de promover fontes confiáveis de informação.

6) Fatores Psicanalíticos

A psicanálise é o método que investiga desde aspectos do passado de uma pessoa, que hoje estão no inconsciente e impactam o indivíduo e o convívio social. Entre os fatores psicanalíticos vale destacar:

Projeção: Mecanismo de defesa pelo qual uma pessoa atribui seus próprios sentimentos, pensamentos ou traços indesejados a outra pessoa. Nas redes sociais, as pessoas podem projetar suas próprias emoções negativas em outras pessoas ou grupos, levando a brigas e conflitos.
Identificação projetiva: Processo pelo qual uma pessoa projeta seus próprios sentimentos ou características em outra pessoa ou grupo. Nas redes sociais, as pessoas podem se identificar com grupos de outras pessoas que compartilham suas opiniões e emoções, e projetar seus próprios sentimentos negativos em grupos rivais, levando a conflitos e brigas.
Narcisismo: Traço de personalidade em que uma pessoa tem um alto grau de autoestima e autoimportância. Nas redes sociais, as pessoas podem buscar a aprovação e validação dos outros, e quando isso não acontece, podem se tornar agressivas e defensivas, levando a brigas e conflitos.
Inveja: Emoção negativa que ocorre quando uma pessoa deseja o que outra pessoa tem, ou sente que a outra pessoa tem algo que ela própria não tem. Nas redes sociais, as pessoas podem se sentir invejosas das realizações ou felicidade de outras pessoas, levando a brigas e conflitos.

BÔNUS: As Redes Sociais unem pessoas em diferentes ambientes e condições climáticas

O ambiente e as condições climáticas podem interferir no humor das pessoas e favorecer brigas e conflitos. Por exemplo, dias chuvosos e cinzentos podem deixar as pessoas com uma sensação de tristeza e desânimo, o que pode afetar negativamente seu humor e disposição. O calor excessivo também pode deixar as pessoas irritadas e agitadas, o que pode levar a brigas e conflitos.

  • Um estudo científico publicado em 2011 no Journal of Personality and Social Psychology descobriu que temperaturas mais altas estão correlacionadas com um aumento na agressão e violência interpessoal. Os pesquisadores analisaram os dados de 60 estudos em todo o mundo e descobriram que o aumento da temperatura está associado a um aumento de 4% na violência interpessoal e um aumento de 14% na violência intergrupal (Fonte: Anderson e DeLisi – 2011).
  • Um estudo publicado em 2016 no Journal of Environmental Psychology descobriu que condições climáticas adversas, como calor, umidade e poluição do ar, estão associadas a um aumento na irritabilidade e na agressão. Os pesquisadores descobriram que os níveis de irritabilidade e agressão eram maiores em dias quentes e úmidos, e em áreas com altos níveis de poluição do ar (Fonte: Lin e Wu – 2016).

Além disso, o ambiente físico pode influenciar o humor das pessoas. Ambientes lotados e barulhentos, como estações de metrô ou aeroportos, podem deixar as pessoas estressadas e irritadas, o que pode levar a conflitos e brigas. Da mesma forma, ambientes fechados e sem ventilação adequada podem deixar as pessoas cansadas e sonolentas, o que também pode afetar negativamente seu humor e disposição. Outra curiosidade são os estudo científicos que apontam que durante as fases de lua cheia, as pessoas tendem a se tornarem mais emotivas, o que também reflete nos comportamentos nas redes sociais. Neste vídeo ensino mais sobre essa curiosidade científica.

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Referências:

  • Anderson, C. A., & DeLisi, M. (2011). Implications of global climate change for violence in developed and developing countries. Journal of Personality and Social Psychology, 101(4), 627–649. doi: 10.1037/a0025399. Link: https://doi.org/10.1037/a0025399
  • Lin, H.-L., Lin, W.-Y., & Wu, Y.-T. (2016). The relationship between environmental factors and aggression among adolescents in Taiwan. Journal of Environmental Psychology, 46, 126–135. doi: 10.1016/j.jenvp.2016.03.001. Link: https://doi.org/10.1016/j.jenvp.2016.03.001
  • Rotton, J., & Cohn, E. G. (2013). Weather, seasonal trends and property crimes in Minneapolis, 1987-2005. PLoS One, 8(12), e81033. doi: 10.1371/journal.pone.0081033. Link: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0081033 

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